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Primeira imunoterapia brasileira no tratamento do câncer é testada no Hospital Municipal de Paulínia

A taxa de sucesso do tratamento foi de 82,8%, ou seja em 24 pacientes o tumor desapareceu e não retornou


O câncer de bexiga representa a segunda doença maligna mais comum do trato urinário, e um dos tumores que apresentam os maiores custos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Em média, 70% dos pacientes com câncer de bexiga apresentam a condição não músculo invasivo. O único tratamento atualmente no mercado consiste na raspagem do tumor, em conjunto com a terapia de OncoBCG. O problema é que o tratamento com o OncoBCG falha em 45% dos casos. E, além disso, os pacientes sofrem de uma série de efeitos colaterais, fazendo com que muitos o abandonem.

Outro detalhe importante é que, especialmente no Brasil, há uma falha na distribuição do OncoBCG, produzido apenas por uma instituição, fazendo com que a população sofra com a falta desse medicamento constantemente.

Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em parceria com o Hospital Municipal de Paulínia (HMP), desenvolveu uma imunoterapia inédita no Brasil capaz de combater o câncer de bexiga. A imunoterapia, batizada com o nome OncoTherad, estimula a produção de proteínas, de células de defesa e de citocinas, favorecendo a destruição dos tumores.

Os responsáveis pelo estudo são os professores Wagner José Fávaro e Nelson Duran, além do urologista João Carlos Cardoso Alonso, coordenador do Ambulatório de Saúde do Homem do Hospital Municipal de Paulínia. Após 12 anos de pesquisa e resultados promissores, uma parceria com o Hospital Municipal de Paulínia permitiu que a medicação fosse administrada em pacientes com câncer de bexiga. A indicação do OncoTherad, que está em fase adiantada de desenvolvimento, é para pacientes com câncer de bexiga não-músculo invasivo.

“Para quem já passou pelo tratamento com o OncoBCG e o câncer reincidiu”, explica o Dr. Wagner José Fávaro.

Estão em tratamento 29 pacientes, que iniciaram o tratamento há quase 2 anos. A taxa de sucesso do tratamento com OncoTherad foi de 82,8%, ou seja em 24 pacientes o tumor desapareceu e não retornou.

“Apenas em 5 pacientes o tumor voltou, mas não com o mesmo tamanho e nível de agressividade. Ele voltou muito menor e com uma característica muito menos agressiva do que o seu diagnóstico inicial. E isso já é um grande passo, algo que o OncoBCG (tratamento padrão para o câncer de bexiga) não consegue promover. E os efeitos colaterais estão sendo mínimos nestes pacientes, com o aparecimento de uma reação alérgica facilmente controlada com o uso de antialérgicos. Portanto, tivemos uma taxa de resposta positiva em 80% dos casos”, comemora o urologista João Carlos C. Alonso.

Os resultados obtidos no Hospital Municipal de Paulínia foram apresentados no maior Congresso Médico de Oncologia do mundo, o American Society of Clinical Oncology Meeting (ASCO) em Maio de 2019. Também, os resultados foram publicados em um jornal especializado da área de oncologia, o Journal of Clinical Oncology.

“Tal fato é motivo de orgulho para a Ciência Brasileira, pois nosso grupo de pesquisa foi o primeiro a produzir um fármaco no Brasil com aplicação oncológica, desenhar e aplicar um protocolo de ensaio clínico no Brasil e publicar na ASCO”, comenta o Dr. Wagner Fávaro.

A partir desses importantes resultados, os Doutores Wagner Fávaro e João Carlos C. Alonso foram convidados a apresentar os resultados do medicamento OncoTherad no Simpósio: Fronteiras na Inovação em Medicina Translacional no Instituto InRad na Faculdade de Medicina da USP, São Paulo. Importantes médicos e pesquisadores oncológicos de grandes centros de referências no Brasil, como HC, FMUSP, Unicamp, Ac Camargo e Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, além de representantes das indústrias farmacêuticas EMS, Brace e Grupo NC, discutiram o assunto e compartilharam boas práticas.

A imunoterapia com OncoTherad pode ser considerada como opção terapêutica segura e eficaz em pacientes com câncer de bexiga e, pode fornecer benefícios para a prevenção da recidiva tumoral, além de evitar ou adiar a necessidade de cirurgia radical nesses pacientes.

Desenvolvido por professores da Unicamp, com apoio de alunos da Universidade e em parceria com Hospital do Serviço Único de Saúde, o OncoTherad é um exemplo do que a universidade pública de qualidade é capaz de alcançar. É o primeiro medicamento desenvolvido no Brasil, com patente brasileira.

“Isso só foi possível dentro de uma universidade pública de qualidade, em que o papel da Universidade foi desenvolver uma pesquisa e conseguir devolver para a sociedade todo investimento que a sociedade civil fez na universidade”, afirma o Dr. Wagner Fávaro.

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